O síndrome da página em branco de vez em quando ataca-me. Apodera-se da minha pessoa e controla-a.
É verdade: estou a ser controlada pelo síndrome da página em branco. Não se nota? Ora, é nítido, é óbvio. Está escrito em mim que não consigo escrever nada em folhas brancas, limpas e virgens. Essas coisas polidas de sentido que dizem: Escreve qualquer coisa! Desenha em cima de mim!
Se tivesse um bloco de folhas riscadas era mais fácil. Encher de sentido, riscar mais, não ter medo de estar isolada no meio do nada, estar antes no meio de tudo. Poder escrever algo sobre estar afectada com o síndrome da página riscada: Uma página que é menos minha que as outras, que não é só minha? Quero ser dona da folha! Fora riscos, fora daqui! Isso sim é que era liberdade artística. Podia ainda ganhar juízo e deixar de arranjar argumentos para falta de inspiração, mas ter juízo é um processo demorado e a inspiração é mais uma desculpa.
diletantismos
aquela dificuldade de nos agarrarmos às coisas durante muito tempo deixa-nos ou muito espertos ou muito burros
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
terça-feira, 26 de outubro de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Este ar insuportavelmente respirável anda-nos a fazer mal. O suportável. O suportável era só a
a simplicidade dos simples, fora do que os fez como tal e fora do contrário disso.
Era respirar as brisas que há tanto tempo ignoramos, talvez perdidos em nós mesmos.
Ignoramos o essencial e, no entanto, vamos seguindo...
...cegos, surdos e mudos.
a simplicidade dos simples, fora do que os fez como tal e fora do contrário disso.
Era respirar as brisas que há tanto tempo ignoramos, talvez perdidos em nós mesmos.
Ignoramos o essencial e, no entanto, vamos seguindo...
...cegos, surdos e mudos.
domingo, 16 de maio de 2010
Em contextualização...
...desta curta que coloquei no inicio do blog, passo a escrever este texto.
Em 1962, Agnés Varda faz mostrar ao público mais um dos seus filmes. Cheio de inocência, honestidade, realidade e pluralidade, surge Cléo de 5 à 7: a história de uma cantora que espera os resultados de um exame, que poderão determinar o resto da sua vida, e que a deixam a vaguear durante duas horas, que são acompanhadas minuto a minuto pelo espectador.
Ora, segundo a realizadora, este argumento seria bastante cansativo a certo ponto. Por isso, para desanuviar um pouco, decidiu reunir os seus amigos e pedir-lhes que participassem numa curta metragem que iria colocar algures a meio do filme de Cléo. E assim fez, escreveu um argumento sobre um rapaz que devido aos seus óculos escuros via tudo negro, inspirando-se no seu amigo Godard, a quem dizia várias vezes para tirar os óculos escuros, porque estes não deixavam que mostrasse os seu belos olhos, e filmou-o em Paris, mais precisamente na ponte Macdonald.
Em 1962, Agnés Varda faz mostrar ao público mais um dos seus filmes. Cheio de inocência, honestidade, realidade e pluralidade, surge Cléo de 5 à 7: a história de uma cantora que espera os resultados de um exame, que poderão determinar o resto da sua vida, e que a deixam a vaguear durante duas horas, que são acompanhadas minuto a minuto pelo espectador.
Ora, segundo a realizadora, este argumento seria bastante cansativo a certo ponto. Por isso, para desanuviar um pouco, decidiu reunir os seus amigos e pedir-lhes que participassem numa curta metragem que iria colocar algures a meio do filme de Cléo. E assim fez, escreveu um argumento sobre um rapaz que devido aos seus óculos escuros via tudo negro, inspirando-se no seu amigo Godard, a quem dizia várias vezes para tirar os óculos escuros, porque estes não deixavam que mostrasse os seu belos olhos, e filmou-o em Paris, mais precisamente na ponte Macdonald.
sábado, 15 de maio de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
TU DISSESTE
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]
Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]
Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"
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