terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O síndrome da página em branco de vez em quando ataca-me. Apodera-se da minha pessoa e controla-a.
É verdade: estou a ser controlada pelo síndrome da página em branco. Não se nota? Ora, é nítido, é óbvio. Está escrito em mim que não consigo escrever nada em folhas brancas, limpas e virgens. Essas coisas polidas de sentido que dizem: Escreve qualquer coisa! Desenha em cima de mim!
Se tivesse um bloco de folhas riscadas era mais fácil. Encher de sentido, riscar mais, não ter medo de estar isolada no meio do nada, estar antes no meio de tudo. Poder escrever algo sobre estar afectada com o síndrome da página riscada: Uma página que é menos minha que as outras, que não é só minha? Quero ser dona da folha! Fora riscos, fora daqui! Isso sim é que era liberdade artística. Podia ainda ganhar juízo e deixar de arranjar argumentos para falta de inspiração, mas ter juízo é um processo demorado e a inspiração é mais uma desculpa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

PAUSA NA ESCRITA

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Este ar insuportavelmente respirável anda-nos a fazer mal. O suportável. O suportável era só a

a simplicidade dos simples, fora do que os fez como tal e fora do contrário disso.

Era respirar as brisas que há tanto tempo ignoramos, talvez perdidos em nós mesmos.

Ignoramos o essencial e, no entanto, vamos seguindo...




...cegos, surdos e mudos.

domingo, 16 de maio de 2010

Em contextualização...

...desta curta que coloquei no inicio do blog, passo a escrever este texto.

Em 1962, Agnés Varda faz mostrar ao público mais um dos seus filmes. Cheio de inocência, honestidade, realidade e pluralidade, surge Cléo de 5 à 7: a história de uma cantora que espera os resultados de um exame, que poderão determinar o resto da sua vida, e que a deixam a vaguear durante duas horas, que são acompanhadas minuto a minuto pelo espectador.
Ora, segundo a realizadora, este argumento seria bastante cansativo a certo ponto. Por isso, para desanuviar um pouco, decidiu reunir os seus amigos e pedir-lhes que participassem numa curta metragem que iria colocar algures a meio do filme de Cléo. E assim fez, escreveu um argumento sobre um rapaz que devido aos seus óculos escuros via tudo negro, inspirando-se no seu amigo Godard, a quem dizia várias vezes para tirar os óculos escuros, porque estes não deixavam que mostrasse os seu belos olhos, e filmou-o em Paris, mais precisamente na ponte Macdonald.

sábado, 15 de maio de 2010

Ora tomem lá...

são estas coisas que dão gosto ver de vez em quando.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Se nós não pensássemos, apenas sentiríamos.

Lógica fácil de ver, mas nem tanto de perceber.

Perceber o quê, se não é para se pensar?

..eis o problema. ei-lo...ei-lo.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

TU DISSESTE
[Adolfo Luxúria Canibal / Miguel Pedro]

Tu disseste "quero saborear o infinito"
Eu disse "a frescura das maçãs matinais revela-nos segredos insondáveis"
Tu disseste "sentir a aragem que balança os dependurados"
Eu disse "é o medo o que nos vem acariciar"
Tu disseste "eu também já tive medo. muito medo. recusava-me a abrir a janela, a transpôr o limiar da porta"
Eu disse "acabamos a gostar do medo, do arrepio que nos suspende a fala"
Tu disseste "um dia fiquei sem nada. um mundo inteiro por descobrir"
Eu disse "..."

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Tu disseste "agora procuro o desígnio da vida. às vezes penso encontrá-lo num bater de asas, num murmúrio trazido pelo vento, no piscar de um néon. escrevo páginas e páginas a tentar formalizá-lo. depois queimo tudo e prossigo a minha busca"
Eu disse "eu não faço nada. fico horas a olhar para uma mancha na parede"
Tu disseste "e nunca sentiste a mancha a alastrar, as suas formas num palpitar quase imperceptível?"
Eu disse "não. a mancha continua no mesmo sítio, eu continuo a olhar para ela e não se passa nada"
Tu disseste "e no entanto a mancha alastra e toma conta de ti. liberta-te do corpo. tu é que não vês"
Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

Eu disse "o que é que isso interessa?"
Tu disseste "...nada"

terça-feira, 4 de maio de 2010

Mão Morta, Pearl Jam, Gogol, Heaven & Hell, Jet, Alice in Chains, LCD Soundsystem, La Roux, The XX e mais uns tantos fazem de mim neste momento uma pessoa algo ansiosa pelo início de Julho.

Venha a musica e os festivais! [carece de muuuita pesquisa ainda]

segunda-feira, 1 de março de 2010

STATUS: estou contente porque comprei um livro por 3,50€!

The Wind in the Willows

Nunca fui muito de gostar de fábulas ou histórias com animais. Não me atraíam muito as ilustrações bonitinhas.

Ou algo mudou ou me lançaram algum tipo de praga, ou então sempre gostei destas coisas.

O certo é que acabei agora mesmo de ler os quatro volumes de Le Vent dans Les Saules, uma obra de Kenneth Grahame (cujo título original é The Wind in the Willows) adaptada a banda desenhada por Michel Plessix, e estou absolutamente fascinada.

Fui dar com este livro da forma mais banal de sempre, por entre meias e cheias pesquisas musicais fui descobrir que o nome de um albúm de uma das minhas bandas preferidas tinha sido retirado de um dos capítulos desta obra
1. Por sorte tinha por aqui esta adaptação, que devorei em dois dias e já foi muito tempo.

Esta fixação deu-se pela história que de uma simplicidade infantil é ao mesmo tempo profundamente introspectiva em certos pormenores, quer das relações quer dos efeitos que fluem da coexistência entre os seres. De todos os seres. Também pela empatia que as personagens conseguem ter connosco e com o nosso lado mais inocente, pois esta é uma história infantil (lá bem na superfície).

Quanto ao desenho também achei maravilhoso. Claro que esta é uma observação feita ainda sob o extâse de acabar de ler algo de que se gosta. Mas o certo é que é bom quando os nossos dias se transformam em ânsia de voltar a pegar num livro para ver para que mais ambientes é que este nos pode levar.

E tanto a literatura em prosa, como a poesia como a própria banda desenhada têm a sua forma de o fazer. E não acho, de todo, que a banda desenhada nos force a nada, enriquece-nos apenas. E não tenho medo nenhum de partir, só agora, para a leitura da obra original de Kenneth Grahame, aliás creio que vai ser uma experiência completamente diferente. Nem que seja por esta ter sido uma leitura em francês, que de longe não domino, e da próxima vá ser em inglês, que não dominando sempre é mais acessível (infelizmente, porque deviam ser as duas!).

Anoto ainda que esta obra faz lembrar um pouco a Alice, tão em voga agora. Talvez porque falam à inocência e ao de mais profundo que podemos tirar desta palavra. É realmente interessante ir revendo estas histórias.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O banqueiro anarquista


« - O mal verdadeiro, o único mal, são as convenções e as ficções sociais, que se sobrepõem às realidades naturais - tudo, desde a família ao dinheiro, desde a religião ao estado. A gente nasce homem ou mulher - quero dizer, nasce para ser, em adulto, homem ou mulher; não nasce, em boa justiça natural, nem para ser marido, nem para ser rico ou pobre, como também não nasce para ser católico ou protestante, ou português ou inglês. É todas estas coisas em virtudes das ficções sociais. Ora essas ficções sociais são más porquê? Porque são ficções, porque não são naturais. Tão mau é o dinheiro como o estado, a constituição da família como as religiões. Se houvesse outras, que não fossem estas, seriam igualmente más, porque também seriam ficções, porque também se sobreporiam e estorvariam as realidades naturais. Ora qualquer sistema que não seja o puro sistema anarquista, que quer a abolição de todas as ficções e de cada uma delas completamente, é uma ficção também. »

« Ora, de duas coisas, uma: ou o natural é realizável socialmente ou não é: em outras palavras, ou a sociedade pode ser natural, ou a sociedade é essencialmente ficção e não pode ser natural de maneira nenhuma. »

« Pois bem: uma vez assente este critério, nunca mais deixei de o ter presente...Ora, na altura da nossa propaganda em que lhe estou falando, descobri uma coisa. No grupo de propaganda - não éramos muitos: éramos uns quarenta, salvo erro - dava-se este caso: criava-se tirania.
- Criava-se tirania?... Criava-se tirania como?
- Da seguinte maneira... Uns mandavam em outros e levavam-nos para onde queriam; uns impunham-se a outros e obrigavam-nos a ser o que eles queriam: uns arrastavam outros por manhas e por artes para onde eles queriam. »

« - Veja bem o que isso representa... Um grupo pequeno de gente sincera (garanto-lhe que era sincera!), estabelecido e unido expressamente para trabalhar pela sua causa da liberdade, tinha, no fim de uns meses, conseguido só uma coisa de positivo e concreto - a criação entre si de tirania. »

« Conclusão: esta nossa tirania, se não era derivada das ficções sociais, também não era derivada das qualidades naturais; era derivada de uma aplicação errada, duma perversão, das qualidades naturais. E essa perversão, de onde provinha?
Tinha que provir de uma de duas coisas: ou de o homem ser naturalmente mau, e portanto todas as qualidades naturais serem naturalmente pervertidas; ou de uma perversão resultante da longa permanência da humanidade numa atmosfera de ficções sociais, todas elas criadoras de tirania, e tendente, portanto a tornar já instintivamente tirânico o uso mais natural das qualidades mais naturais.»

(...)

Fernando Pessoa, In revista Contemporânea, Maio de 1922

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A facilidade que tenho em gostar de muita coisa, tem-se vindo a tornar no meu maior problema.

Gostava por exemplo de adorar, mas adorar mesmo, a arte de cultivar. E quem diz cultivar diz outra coisa qualquer.

De momento o Rock'n'Roll fascina-me. A alegria que transmite e a energia que contém são incríveis, a força do bem está-me a puxar - Adeus poetas suicidas, adeus!


Até daqui a uma semana...